Boquiaberta

segunda-feira, agosto 18, 2008

voltei a cozinhar

hoje pensei bem se quaria comer pão, miojo ou comida. fui pro fogão fazer macarrão com arroz.
azeite, cebolas picadas, alho, spaghetti. refoga. arroz, água fervendo, sal. eu pensei na vida, pensei na condição femina e em como eu tenho vontade de dançar.
depois pensei um pouco mais e cheguei a conclusão de que só quem tem tempo cozinha e dança... e podem ser as mesmas pessoas.
quem não tem tempo só estuda ou lê ou fala ou pensa que é. quem pensa que não tem tempo só não tem tempo de ser. só é pouquinho e mesquinho, só é copia de quem vive e se mantém vivo para dançar com outras gentes, provar outros sabores e descobrir que abacaxi é tão bom quanto morango. e os dois com chocolate pode ser melhor ainda. aí já voltei ao papo da comida. o macarrão ficou pronto. papento, sem sal e sem cor. só eu gostei. com catchup e queijo ralado. pena que comi a mesma coisa a semana inteira!

terça-feira, junho 24, 2008

enough

eu não quero mais ver rostos. canso a cada dia de ver olhos, bocas. fito o espelho como esperando que saltasse dele minha imagem para substituição desse corpo que já não aguenta mais. os sonhos que passam ultimamente são mais vivos que o dia-a-dia mórbido, fraquinho, inóspito. vivi presa por muito tempo a pessoas que não merecem um pingo do meu esforço ou da minha compaixão. lutei sozinha e em vão por valores que, descobri a pouco, são somente meus. cada um tem seu mundinho girando ao redor do umbigo. do próprio umbigo, dane-se a coletividade.
cansei de militância e de dizer mil vezes que falta mais justiça, amor, paz e todas as coisas que as misses insistem em desejar em concursos fantásticos de mulheres belíssimas.

sábado, junho 14, 2008

masmorra

dei minha cara a tapa. ontem pela manhã fiz de conta que seria um bom dia, como o tiozinho do estacionamento sempre diz. não sorri nem esbocei qualquer tipo de reação positiva a qualquer estímulo exterior. acordei triste, dormi com sono e dor de cabeça. um banho resolve. e foi isso mesmo. hoje acordei com a cabeça ainda doendo, mas a tensão nos ombros já não tinha o mesmo peso. dei alguma risada, conversei alto, baixinho. disse pequenas bobagens para fazer rir. quando voltei até em casa, cansada, esqueci de acrescentar que ninguém perde, ninguém ganha e em questão de mais-valia até que o trabalhador foi bem explorado.
não me importa o que tenha acontecido e o que fez de você um mero sofredor. não me interessam suas razões para dizer e desdizer. reações nem sempre são esperadas ou bem-vindas. não se esqueça que sempre "foi ele que começou". gostei, menti, surtou, larguei. não foi você nem ele. fui eu.
eu que hoje decidi ficar as sós com quem foi cúmplice dos meus piores segredos e soube me olhar nos olhos com a mesma sutileza de outrora. um espelho de mim quebrado em mil pedaços juntados do chão com o cuidado com que são pintadas porcelanas. senti imenso pesar ao perceber que era eu. era só eu ali; feliz e triste. fui eu o tempo todo quem não soube guardar minha vontade de amar em um sacolão atrás do guarda-roupa.

segunda-feira, maio 19, 2008

al coda

fitei o nada com um medo mudo. vi seus olhos e lembrei do dia que te conheci. me apaixonei por uma casca oca, sensível, falsa, fraca. não pensei duas vezes em conhecer o segredo pequeno que havia atrás de um grande e desengonçado corpo feio e mulambo. era a alma doce e burra de alguém que não sabe controlar o que sente, sabe e vê. não foi por uma palavra mal-dita, nem por um gesto impensado. a mágoa que guardo é por não ter conseguido amar. por ter passado tanto tempo inócuo. não guardo saudades, lembranças, memórias, carinhos, risadas... esqueci seu rosto e durmo tranquila e feliz em braços incapazes de erguer a voz em minha direção.

terça-feira, maio 06, 2008

amor

tinha, na janela do quarto abafado, uma gotinha. ela se deixou levar, percorreu lugares, encontrou outras gotinhas, mas acabou só no corrimão escuro. era a mais bela das gotinhas e isso não a salvou do corrimão. o que a gente não percebe é que no corrimão tem mais um monte de gotinhas. sempre tem uma esperando a outra. sempre tem alguém segurando a mão de outrém só no intuito de dizer como o dia e como a noite são bonitos. lá fora e aqui dentro. só depende de onde você vê a gotinha.

segunda-feira, maio 05, 2008

grata

tinha no cabelo o último laço feito pela mãe e no tornozelo uma correntinha delicada. andou sozinha por um tempo, sem tristeza, sem se arrepender. vestiu sua melhor roupa, tomou um chá quente e saiu com as mãos e os pés tão livres quanto a bactéria que nem pede licença ao entrar no organismo. deixou-se rir e chorar. deixou-se levar tão intensamente por todas as emoções que surgiram, mesmo mentiras ou verdades absurdas. não teve medo, não tinha medo. ilesa de desilusões e com a capacidade de superar qualquer tipo de dor. mentiu na minha cara, desgraçado. obrigada. hoje em dia eu gosto de você e passo a mão por seu cabelo grande com imenso torpor. seus braços abraçam o vazio e os meus a grande e bonita felicidade. obrigada.

sexta-feira, abril 11, 2008

Give up

eu nunca falo o que quero, falo sempre o que não devo e nunca falo quando devo. o problema não é esse. é simplesmente saber de tudo isso e entender como mudar, mas não conseguir. e quando escrever, falar mudas palavras mesquinhas que não têm sentido para quem vê - só para aquele que pensa -, parecer pequeno, faça. mesmo tirando a camisa pelos pés, vestindo maquiada o pijama e saindo com a maior cara lavada. a vida se organiza, se destrói e se re-organiza no mesmo infindável ir e vir. nunca deixe que eu esqueça como era viver e sentir a garganta doer de rir. ser tão menina quanto mulher em pesos e medidas que não têm em livros nem aparecem em tratados de psicologia ou filosofia.
se hoje minha cabeça é bagunça e visto as meias com uma cor em cada pé, não foi simplesmente o dia; foram as pessoas. o ser humano que tanto me faz pensar, que me fez desistir.